Cheiras-me a jasmim

Se me perguntassem o que gostaria de fazer o resto da minha vida, eu responderia, com toda a convicção e sem hesitar "viajar e conhecer pessoas". E, provavelmente, a pessoa que me questionou, nem se atreveria a perguntar-me "porquê?" porque bastaria-lhe o brilho dos meus olhos como resposta. No entanto, caso o brilho dos olhos não fosse esclarecedor o suficiente e, ainda assim, a pessoa atrevesse-se a perguntar, eu responderia de imediato: "Sabe... Nós podemos ser muita coisa, mas aquilo que determina a nossa verdadeira essência são as coisas em que nos encontramos. E eu encontro-me a viajar e a conhecer pessoas. Mas mais do que isso, eu não só me encontro como também me perco. E é essa a parte fascinante: como podemos nós encontrar-mo-nos em algo que nos faz perder? Eu costumo perder-me nas pessoas como quem se perde a contemplar a imensidão que é o céu à noite. E dessa mesma forma eu perco-me a viajar. Na verdade, e agora que penso sobre isso, talvez a minha resposta à primeira pergunta tenha sido um tanto ou quanto redundante porque talvez... Talvez conhecer pessoas seja uma forma peculiar de viajar e vice-versa. Mas como eu estava a dizer, em ambas as coisas eu perco-me e, simultaneamente, encontro-me. Parece um paradoxo eu sei, mas... Imagine-se a guiar por uma daquelas estradas que é acompanhada, paralelamente, pelo mar. Está a idealizar? Os seus olhos estão na estrada, mas o mar fascina-a -o rebentar das ondas, o degradê em tons de azul, o movimento uniforme e sereno- e, uma vez por outra, tira os olhos da estrada para vislumbrar todo aquele magnífico cenário, certo? É ai que se perde! É nesse preciso momento! E é esse o efeito que as pessoas têm em mim: eu perco-me nelas como quem conduz por uma estrada que é acompanhada pelo oceano. E essas são o meu tipo de pessoas preferido: aquelas que me restituem enquanto me roubam; aquelas que me fazem tirar os pés do chão, desviar os olhos da estrada para observar o oceano. Lentamente, vou-me perdendo nos detalhes, nas singularidades, na forma como gesticulam enquanto se esforçam por explicar-me algo que adoram, nos movimentos dos lábios, no pestanejar, no erguer das sobrancelhas, no olhar fugitivo, nos silêncios... E eu, maravilhada, oiço-as, olho-as, perco-me! Permito que me roubem e me façam perder no Cosmos que são: nas suas estrelas, nos seus meteoros, planetas, satélites, nos seus cantos desconhecidos... Nos seus vazios."


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